21/5/2014 - Sorocaba - SP
Artigo do Prefeito: Chama do culto ao tropeiro em Sorocaba está mais acesa do que nunca
da assessoria de imprensa da prefeitura de Sorocaba
Foi em 1961 – ou seja, há 57 anos - que por iniciativa da Prof.ª Vera Ravagni Job, orientada pelo nosso historiador maior, Aluísio de Almeida, com o apoio do então Secretário da Educação, Otto Wey Neto, e do compositor e folclorista Roque José de Almeida que a chama do culto ao tropeiro acendeu-se em Sorocaba.
Vencendo as dificuldades iniciais, a comemoração, oficializada pela nossa Câmara por lei de iniciativa do saudoso Vereador Hélio Teixeira Callado, ganhou a denominação de Semana do Tropeiro e, desde 1970, tem sido realizada ininterruptamente. Com a incorporação à contagem das duas celebrações iniciais, após a qual houve temporária descontinuidade, ela atinge, neste ano, sua 47.ª edição.
Ao seu programa se incorporou, em anos mais recentes, um evento de grande importância, a Tropeada de Itararé a Sorocaba que em 2014 se realiza pelo novo ano consecutivo. Resgatando a história tropeira da região, cobre, anualmente, 360 quilômetros de aventura e emoção ao longo do caminho paulista das tropas, passando pelos municípios de Itaberá, Itapeva, Taquarivaí, Buri, Itapetininga, Alambari, Capela do Alto, Tatuí, Boituva, Iperó e Araçoiaba da Serra, até chegar finalmente chegar à nossa cidade.
Tendo aqui entrando na cidade pelo Largo do Divino, na tarde de sábado, dia 17, os participantes da tropeada percorreram-na até o Parque das Águas, onde foram recebidos pelas autoridades sorocabanas, na solenidade de abertura da 47.ª Semana do Tropeiro.
Depois de fazerem seu pouso na área do futuro Parque dos Tropeiros, junto ao antigo matadouro, hoje, dia 18, pela manhã, muladeiros e cavaleiros concentram-se no Parque das Águas e saem dali em desfile pelas ruas da cidade.
Sorocaba é um dos núcleos populacionais mais antigos de São Paulo. Surgiu em 1654 como parte da arrancada bandeirante em direção ao oeste iniciada com a fundação de São Paulo. Os primeiros colonizadores chegaram ao morro do Araçoiaba em 1597, mas foi numa iniciativa independente da expedição mineradora de Afonso Sardinha que em 1654 Baltasar Fernandes aqui se estabeleceu com família e escravaria indígena.
Alçada à condição de município sete anos depois, Sorocaba viveu sucessivos ciclos históricos e econômicos, cada um dos quais deixou marcas na História do Brasil. Entre eles, pelos resultados produzidos, destaca-se o do tropeirismo.
Ao viabilizar a extração do ouro em Minas Gerais e Mato Grosso e do diamante em Minas e Goiás, o tropeiro implantou em nosso país o primeiro sistema de transporte terrestre aqui conhecido, o de tropa arreada. Esta tornou possível o abastecimento de nossos povoados mais distantes e o escoamento do que neles se produzia, enquanto costurava, pouco a pouco, a nossa unidade cultural e territorial até seus confins mais distantes.
O ciclo do tropeiro foi marcado, ainda, pela acumulação de capitais. A feira de Sorocaba, principal evento comercial do país durante 150 anos, gerou fortunas que financiaram a cafeicultura paulista, plantaram no quadrilátero do açúcar as primeiras fábricas de tecidos de algodão da Província e criaram a expertise industrial, decisiva para que São Paulo ingressasse no século XX como o Estado mais próspero do País.
Ainda mais importante foi o corredor econômico e cultural que o tropeirismo gerou entre a região de Sorocaba e o Rio Grande do Sul. Figuras marcantes da política gaúcha – Venâncio Ayres, Pinheiro Machado – têm suas raízes familiares na região de Sorocaba.
Numerosos tropeiros de Sorocaba que se casaram no Rio Grande do Sul e muitos gaúchos serranos, da campanha ou das área missioneira, aqui constituíram suas famílias.
Partilhamos, ainda hoje, um sem número de tradições e de costumes que, quase esquecidos ao longo do tempo, ressurgem, com força, por ocasião das tropeadas e da Semana do Tropeiro, lembrando que as nossas diferenças são, na realidade, matizes de uma raiz comum.
Tinha razão, portanto, o artista Rui Biriva, há pouco falecido, quando proclamava na canção de que resultou seu nome artístico: “Daqui miles de mulas para a feira/, de lá mascatarias regionais/, unindo o norte e o sul num vai e vem/, sem saber que de fato ele, o tropeiro, /intercambiava traços culturais.”
Se isso vale para os sul-rio-grandenses e os do sudoeste de nosso Estado, vale igualmente para os paulistas da antiga 5.ª Comarca - os paranaenses dos Campos Gerais - e os catarinenses da Serra.
Tudo isso faz desta tropeada e da Semana do Tropeiro, celebrações da nacionalidade brasileira em que os irmãos se encontram para festejar o passado, preservando tradições e construindo um futuro comum.
É por todas essas razões que, em Sorocaba, a chama da cultura tropeira segue mais acesa do que nunca.