25/2/2014 - Sorocaba - SP

ARTIGO DO PREFEITO - Um patrono e um exemplo

da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sorocaba

A Prefeitura entregou sexta-feira, aos moradores do Ipanema Ville, a Escola Municipal "Prof. Benedicto Cleto". Fruto de uma parceria entre o poder público e a iniciativa privada, a nova unidade tem classes e equipamentos complementares para oferecer ensino de qualidade a 670 alunos do primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1º a 5º ano).

Ao escolher como seu patrono Benedicto Cleto, cujo centenário de nascimento ocorre daqui a dois anos, a Prefeitura quis, ao mesmo tempo, reverenciar um sorocabano de adoção que deu grande contribuição ao desenvolvimento educacional e cultural de nossa terra e destacar um exemplo de superação das circunstâncias limitadoras da vida.

A vida de Benedicto Cleto desenrolou-se em três cenários distintos: o bairro rural de Tucunduva, em Itapetininga; a área urbana daquela cidade e, finalmente, Sorocaba onde se qualificou para exercer sua vocação de educador e tornou-se um líder da luta pela preservação e resgate de nossa herança cultural.

Filho de trabalhadores rurais, sem acesso à escola, dedicou-se às lidas da roça, ao mesmo tempo em que se afirmava, ali e nos bairros e cidades vizinhas, como um violeiro extraordinário, que além de dominar as múltiplas afinações do seu instrumento musical, canta e compunha como ninguém – o que lhe valeu o título de Galo da Serra.

Aos 21 anos, já casado e pai de família, transferiu-se para a cidade e ali começou a trabalhar primeiro como ajudante de um sapateiro conhecido por produzir excelentes calçados. Acabou adquirindo o estabelecimento e tornou-se, ele próprio, o melhor fabricante de sapatos e botas sob medida de Itapetininga.

Nessa faina permaneceu 10 anos, período em que ganhou e economizou dinheiro para realizar o seu verdadeiro sonho: estudar. Então, passou adiante a sapataria e dedicou-se exclusivamente à tarefa de aprender, até reunir todos os diplomas que poderia conquistar na terra de Júlio Prestes.

Aí, mudou-se para Sorocaba e aos 35 anos, depois de prestar o vestibular, tornou-se aluno do Curso de Letras da velha Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, cujo corpo docente, àquela época, era constituído em grande parte por professores da USP.

Não foi nada fácil a adaptação do antigo roceiro à vida acadêmica e, concomitante, à difícil e então muito respeitada tarefa de professor dos colégios sorocabanos em que lecionava Língua Portuguesa, a fim de manter-se a si mesmo e à sua família. Apesar de áspera, a passagem pela Faculdade acentuou seu gosto pelos estudos e, uma vez formado, logo ingressou no curso de Direito.

Fez carreira no magistério oficial, lecionando principalmente na atual Escola Estadual "Dr. Júlio Prestes de Albuquerque". Ao mesmo tempo, ia-se se revelando como escritor, colaborador assíduo da imprensa local e animador cultural de alta qualidade.

Deu à festa do folclore do Estadão dimensões que ultrapassavam em muito os limites do colégio, mobilizando e atraindo pessoas de todas as cidades. Integrou-se, também, à equipe da Profa. Vera Ravagnani Job no planejamento e execução, em parceria com a Prefeitura, da Semana do Tropeiro.

Tendo conhecido e vivido intensamente a realidade da cultura caipira, sabia como ninguém identificar, expor e destacar os seus valores, batendo de frente com os folcloristas que conheciam o tema apenas de gabinete e pesquisas acadêmicas.

Escreveu e publicou continuamente, deixando na imprensa local uma obra esparsa que esmiúça múltiplos campos da cultura paulista. Teve papel destacado no grupo que, sob a liderança de José Aleixo Irmão, criou a Academia Sorocabana de Letras.

Ao falecer, vítima de um atropelamento, achava-se em plena atividade, sendo uma de suas últimas obras a letra do Hino a Sorocaba, musicado pela Profa. Ruth Camargo Fernandes.

Legou aos sorocabanos um extraordinário exemplo de amor a esta cidade e, à posteridade, uma lição de como a determinação e a vontade podem superar as limitações sociais. O que é, afinal, a melhor lição que uma escola pode ensinar aos seus alunos.

*Artigo publicado pelo jornal Diário de Sorocaba em 23 de fevereiro de 2014