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9/9/2014 - Sorocaba - SP

Famílias dizem que não têm como assumir cuidado




Cruzeiro do Sul

Familiares de pacientes do Hospital Psiquiátrico Teixeira Lima, interditado na sexta-feira pela Prefeitura, dizem que não têm condições de assumir os seus cuidados. Foi o que contaram ontem ao Cruzeiro do Sul algumas pessoas que estiveram na unidade para visitar os doentes. Nenhum dos entrevistados relatou ocorrência de maus tratos ou reclamou da condição de atendimento do hospital.

Estas irregularidades teriam sido constatadas por uma comissão da Câmara que tem como presidente o vereador Izídio de Brito (PT). O parlamentar fez uma visita surpresa ao hospital, acompanhado de equipe de TV, que registrou cenas que mostram pacientes sujos, nus, camas sem colchão ou cobertor, chão molhado de urina, banheiros com estrutura quebrada, além de denúncias de mortes suspeitas e agressões.

O diretor clínico do hospital, Dirceu Doretto, confirmou no sábado à repórter Regina Helena dos Santos que as cenas mostradas e os casos de óbito realmente ocorreram, porém, diz que a interdição, por parte da Vigilância Sanitária (Visa), aconteceu sob alegação de falta de funcionários suficientes para atender à demanda.

Conforme divulgado, os internos terão sua condição avaliada até dezembro e poderão ter de voltar ao convívio familiar, caso fique demonstrado que podem se recuperar fora da instituição. Os parentes, no entanto, reclamam da falta de informações mais precisas a respeito. Elza Carmelo, de 84 anos, disse que sua filha está sob tratamento há doze. "Os médicos dizem que ela precisa ficar internada e eu não enxergo direito, além de ter problemas para andar. Como é que fica?", questionou.

Alex Pezini foi visitar a mulher que está no hospital há quatro meses. "Ela tem distúrbios mentais muito fortes. Já disseram que não dá para ela sair. Mesmo assim, disseram aí que vou precisar dar um jeito. Não sei como, já que o tempo é curto demais para tomar providências e eu luto com dificuldade".

Olívia Bonelli disse que seu sobrinho, dependente químico, também não tem como retornar para casa. "Eles fazem as coisas do jeito que bem entendem, não conversam, não informam e agora dizem que preciso levar o rapaz embora porque vai fechar. É muito complicado. Ninguém ajuda", desabafou.

O filho de Aparecida Bernadete Grahns está no Instituto há três anos e antes disso passou por várias unidades de tratamento psiquiátrico. "O caso dele é grave e não tem como ir para casa. Eu não sei como vai ficar a situação, mas espero que alguém encontre uma saída não só para o meu, mas para o caso de todos que estão aí".

 

Interdição

A interdição do Teixeira Lima foi decretada na sexta-feira pela Área de Vigilância em Saúde da Secretaria da Saúde do Município sob a justificativa de insuficiência de recursos para a recepção de novos pacientes. O comunicado divulgado na ocasião diz que a medida foi tomada "mediante o compromisso de (a unidade) manter as condições necessárias à prevenção, promoção e proteção da saúde dos pacientes atualmente internados, até a total transferência para outras unidades terapêuticas, ou o retorno ao convício familiar, por alta médica".

Cerca de 240 pacientes estão internados no hospital e de acordo com o que informou o secretário de Governo, João Leandro da Costa Filho à reportagem na sexta-feira, deverão ser transferidos para casas terapêuticas já em funcionamento no município. Outros poderão voltar para suas famílias e, dependendo do caso, também poderão ir para o hospital Vera Cruz.

Esta última hipótese foi confirmada pela Prefeitura no sábado. Segundo informado ao jornal, os 120 pacientes moradores (alguns deles com mais de 20 anos de internação) serão transferidos ao Hospital Vera Cruz, num prazo de dois a três meses, para que, posteriormente, deem continuidade ao tratamentos em residências terapêuticas. Já outros 110 pacientes agudos, internados atualmente no local, voltarão para as casas de familiares à medida em que recebam alta hospitalar.

A Prefeitura foi procurada para se manifestar sobre as reclamações dos familiares de internos do hospital, mas não atendeu às ligações da reportagem.



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